Acidente de Chernobyl

O acidente de Chernobyl, em 1986, foi o pior desastre nuclear da história. Foi provocado pela explosão de um reator na Usina de Chernobyl, liberando radiação na atmosfera.
Helicóptero pulverizando área próxima ao local do acidente de Chernobyl.
Helicóptero pulverizando área próxima à Usina de Chernobyl. A explosão liberou material radioativo na atmosfera.[1]
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O acidente de Chernobyl foi um desastre nuclear que ocorreu no dia 26 de abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobyl, próxima à cidade de Pripyat, na Ucrânia. No acidente, houve uma explosão em um dos reatores nucleares, seguida de um incêndio. Esse acidente foi considerado o pior desastre nuclear da história, liberando uma grande quantidade de material radioativo na atmosfera. Como resultado, muitas pessoas foram afetadas diretamente pelo acidente, sofrendo graves consequências para sua saúde, além de impactos ambientais que ainda são sentidos na região.

Leia também: Acidente com césio-137 em Goiânia — maior tragédia radioativa ocorrida fora de uma usina e de testes nucleares

Resumo sobre o acidente de Chernobyl

  • O acidente de Chernobyl ocorreu em 26 de abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobyl, localizada perto da cidade de Pripyat, na então União Soviética (atual Ucrânia).
  • Durante um teste de segurança no reator nuclear, ocorreu uma explosão seguida de um incêndio no reator 4 da usina, liberando grandes quantidades de material radioativo na atmosfera.
  • O acidente foi causado por uma combinação de erros humanos e falhas técnicas.
  • A liberação massiva de elementos radioativos, incluindo iodo-131 e césio-137, teve impactos significativos na saúde humana e no meio ambiente, afetando áreas extensas da Europa.
  • A cidade de Pripyat, lar de trabalhadores da usina, foi evacuada às pressas, levando à deslocação de milhares de pessoas.
  • Vários trabalhadores da usina e socorristas foram expostos a doses letais de radiação, desenvolvendo a Síndrome Aguda da Radiação (SAR) e resultando em mortes e doenças graves.
  • O acidente teve impactos no longo prazo para o meio ambiente, causando mutações em plantas e animais e criando a zona de exclusão de Chernobyl.

Videoaula sobre o acidente de Chernobyl

O que foi o acidente de Chernobyl?

O acidente de Chernobyl foi um desastre nuclear que ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, localizada perto da cidade de Pripyat, na Ucrânia, então parte da União Soviética, em 26 de abril de 1986. A explosão liberou uma grande quantidade de material radioativo na atmosfera, afetando não só a Ucrânia mas também outros países da Europa. O acidente é considerado o pior desastre nuclear da história em termos de mortes e impacto ambiental.

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Causas do acidente de Chernobyl

As causas do acidente de Chernobyl incluíram falhas de projeto, erro humano e condições operacionais inadequadas. Nesse contexto, podemos destacar alguns fatos:

→ Teste de segurança e procedimentos inadequados

O acidente ocorreu durante um teste de segurança no reator nuclear número 4 da Usina de Chernobyl. Os operadores não seguiram os procedimentos operacionais padrão e vários sistemas de segurança foram desativados para simular condições específicas. Devido a isso, ocorreu uma reação nuclear descontrolada nesse reator, resultando em uma explosão e liberação significativa de material radioativo na atmosfera. O acidente em Chernobyl é um lembrete sombrio dos perigos da energia nuclear e da importância de medidas de segurança adequadas.

→ Falha de projeto do reator RBMK

O reator utilizado em Chernobyl era do tipo RBMK (reator bolshoí moshchnosti kanalny ou reator de alta potência canalizado, em tradução livre), um projeto soviético. Esse tipo de reator tinha uma característica peculiar: ele poderia se tornar instável em certas condições. Durante o teste, essas características não foram adequadamente compreendidas pelos operadores. Diante disso, o acidente de Chernobyl destacou a importância da segurança em instalações nucleares e influenciou mudanças significativas nas práticas e regulamentações nucleares em todo o mundo.

Veja também: Como funciona uma bomba atômica

Quem foram os responsáveis pelo acidente de Chernobyl?

Os principais responsáveis foram os engenheiros que projetaram o reator, bem como os operadores que estavam trabalhando na usina no momento da explosão. Como pontuado no tópico anterior, eles falharam em seguir os procedimentos de segurança adequados e ignoraram os sinais de alerta que indicavam que algo estava errado. Além disso, eles não tinham pleno conhecimento das características específicas do reator RBMK, incluindo sua propensão à instabilidade em determinadas condições, o que levou a uma interpretação inadequada dos resultados do teste.

Por outro lado, as autoridades soviéticas também foram responsáveis, pois permitiram a implementação de políticas e práticas que contribuíram para o acidente, incluindo a escolha de projetos de reatores como o RBMK, que tinha características intrinsecamente instáveis e não atendia aos mais altos padrões de segurança.

É importante notar que o desastre de Chernobyl foi resultado de uma combinação complexa de fatores sistêmicos e individuais. As responsabilidades se estenderam desde os níveis operacionais até as decisões políticas e estruturais mais amplas relacionadas à energia nuclear na União Soviética na época.

Como funcionava a Usina de Chernobyl?

A Usina de Chernobyl funcionava por meio da fissão nuclear, a reação que ocorre quando núcleos atômicos são divididos em núcleos menores, liberando uma grande quantidade de energia. A usina tinha quatro reatores nucleares e cada um deles era alimentado por combustível nuclear, geralmente urânio enriquecido.

Esse tipo de reator funcionava da seguinte forma:

  • Ciclo do combustível nuclear: durante o processo de fissão nuclear, os nêutrons liberados causam a fissão de outros núcleos de urânio-235, gerando calor e liberando mais nêutrons. A maioria das usinas nucleares utiliza urânio enriquecido como combustível (urânio-235), pois é físsil, o que significa que pode ser dividido quando atingido por nêutrons.
Imagem ilustrativa da divisão do urânio, usado na usina nuclear do acidente de Chernobyl.
A maioria das usinas nucleares utiliza urânio enriquecido como combustível.
  • Moderador e refrigerante: o reator RBMK usava grafite como moderador, uma substância que desacelera os nêutrons para aumentar a probabilidade de fissão. O refrigerante utilizado era água pressurizada.
  • Barras de controle: barras de controle feitas de materiais absorvedores de nêutrons, como o boro, eram usadas para controlar a reação nuclear. Inserir essas barras diminui a taxa de fissão.
  • Canaletas de combustível: o combustível nuclear estava contido em canaletas verticais, e as barras de controle podiam ser inseridas ou retiradas dessas canaletas para ajustar a reação nuclear.
  • Sistema de refrigeração: a água pressurizada funcionava como refrigerante, transferindo o calor gerado pela reação nuclear para gerar vapor. Esse vapor era então usado para acionar turbinas que geravam eletricidade.
  • Testes de segurança e instabilidade: durante o teste que resultou no acidente, as condições operacionais foram alteradas para simular uma falha de energia.

O que foi feito para conter a radiação em Chernobyl?

Após o acidente, medidas foram tomadas para conter a radiação e minimizar seus efeitos sobre as pessoas e o meio ambiente. Sendo assim, uma das diligências foi o estabelecimento de uma zona de exclusão, com um raio de 30 km ao redor da usina. Nessa área, a população foi evacuada e o acesso ficou restrito.

Detector de radiação usado na zona de exclusão após o acidente de Chernobyl.
A zona de exclusão foi delimitada com o uso de detectores de radiação.

Além disso, equipes de limpeza foram enviadas para remover a sujeira radioativa das áreas afetadas. Para entrar em contato com objetos radioativos, necessita-se de roupa de proteção, máscara de gás e contador Geiger para verificar o nível de radiação. Outra medida importante foi a construção de um sarcófago ao redor do reator danificado para evitar a liberação de mais radiação na atmosfera. Em 2016, esse sarcófago foi substituído por uma nova estrutura de contenção, chamada de Novo Confinamento Seguro.

Monumento às vítimas do acidente de Chernobyl em frente ao Novo Confinamento Seguro, na zona de exclusão.
Monumento às vítimas do acidente de Chernobyl em frente ao Novo Confinamento Seguro, na zona de exclusão.[2]

Podemos citar, também, a descontaminação de alimentos e a proibição da caça e pesca na região. O alce é um dos animais de caça presentes na zona de exclusão de Chernobyl, além dele, podem ser encontrados, também, veados, javalis, lobos, raposas e uma variedade de aves. Sem contar que foram criados programas de monitoramento ambiental para avaliar a extensão da contaminação e monitorar os níveis de radiação em solo, água e ar.

Muitas outras providências foram tomadas, como:

  • Monitorar e tratar problemas de saúde relacionados à exposição à radiação.
  • Pesquisas foram conduzidas para criar tecnologias que pudessem ajudar na descontaminação de áreas afetadas e na gestão segura de resíduos radioativos.
  • Aplicação de substâncias que ajudariam a conter a dispersão de partículas radioativas.

Diante disso, vale ressaltar que, ainda hoje, a área de Chernobyl é monitorada de perto e medidas são tomadas para garantir a segurança da população e do meio ambiente.

Quais foram as consequências do acidente de Chernobyl?

Como vimos em tópicos anteriores, as consequências do acidente de Chernobyl abrangeram as áreas da saúde, o meio ambiente, a segurança nuclear e a percepção pública. Nesse contexto, podemos destacar algumas:

  • Aumento nas taxas de câncer, especialmente de tireoide (o iodo radioativo, liberado durante o acidente, emite radiações ionizantes que podem danificar as células e desencadear o desenvolvimento de tumores).
  • Outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e distúrbios psicológicos, foram relatados.
  • Deslocamento da população local, que teve que abandonar suas casas.
  • Desafios econômicos e sociais resultantes do deslocamento da população.
Edifícios abandonados em Pripyat, onde ocorreu o acidente de Chernobyl.
Com a evacuação da população, Pripyat, ponto central da zona de exclusão, tornou-se uma cidade fantasma.

Outro ponto importante é que o desastre afetou o solo, a água e a vida selvagem, bem como houve mudanças nas populações de plantas e animais na área afetada. Muitos animais encontraram refúgio na zona de exclusão, e as populações de algumas espécies aumentaram notavelmente. Além disso, a produção agrícola nas áreas afetadas foi impactada devido à contaminação do solo. Diante disso, alguns produtos agrícolas ainda enfrentam restrições devido a níveis persistentes de radiação.

Cabe ressaltar que o acidente teve um impacto psicológico duradouro nas comunidades afetadas, com altos níveis de ansiedade e de medo e com o estigma associados à exposição à radiação. O ponto positivo disso tudo (se é que há algum) é que o acidente influenciou a percepção pública sobre a segurança nuclear e levou a mudanças nas regulamentações e práticas em muitos países, além de incentivar o desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos relacionados à descontaminação, ao gerenciamento de resíduos radioativos e à segurança nuclear.

Quantas pessoas morreram no acidente de Chernobyl?

Monumento em homenagem aos bombeiros mortos no acidente de Chernobyl.
Aqueles que Salvaram o Mundo, homenagem aos bombeiros que trabalharam para conter o incêndio da usina de Chernobyl.[3]

De acordo com o relatório oficial da ONU, cerca de 4000 pessoas morreram como resultado direto da explosão e da exposição à radiação. No entanto, ao longo dos anos, as avaliações foram revistas, e as estimativas aumentaram, especialmente quando se considera as mortes por câncer e outras doenças relacionadas à radiação no longo prazo.

Nesse contexto, organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros especialistas em saúde pública realizaram estudos e estimativas, sendo que algumas delas sugerem que o número total de mortes, incluindo mortes diretas e indiretas ao longo do tempo, pode variar de milhares a dezenas de milhares.

Quais são os perigos da radiação?

A radiação pode representar diversos perigos para os seres humanos e o meio ambiente. Por isso, é importante que se saiba que existem diferentes tipos de radiação, como radiação ionizante (liberada na Usina de Chernobyl) e não ionizante, cada uma com características e efeitos distintos. A radiação ionizante é capaz de remover elétrons dos átomos, causando danos celulares mais graves do que a radiação não ionizante, que não tem energia suficiente para fazer isso.

Abaixo estão alguns dos perigos associados à radiação ionizante, a forma de radiação mais preocupante em termos de riscos à saúde:

  • A radiação ionizante pode ionizar átomos e moléculas, causando danos diretos ao DNA. Isso pode resultar em mutações genéticas, danos cromossômicos e, potencialmente, contribuir para o desenvolvimento de câncer.
Pés com deformidades em alusão aos efeitos da radiação liberada no acidente de Chernobyl.
Houve casos de doenças genéticas oriundas da radiação ionizante liberada no acidente de Chernobyl.
  • Exposição a doses muito altas de radiação em um curto período pode resultar na Síndrome Aguda da Radiação. Isso inclui sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, danos às células sanguíneas e comprometimento do sistema nervoso central. Os sintomas de náusea e vômito ocorrem dentro de horas a poucos dias após a exposição à radiação.
  • A radiação pode afetar as células reprodutivas, levando a problemas de fertilidade, defeitos congênitos e complicações durante a gravidez. Exposição intensa à radiação, especialmente em doses elevadas, pode resultar em esterilidade temporária ou permanente.

Em resumo, embora a radiação possa ser uma fonte importante de energia e avanços tecnológicos, é essencial que as pessoas tomem as medidas necessárias para se protegerem e minimizarem os riscos associados à exposição excessiva.

Saiba mais: Quais elementos químicos são radioativos?

Quando Chernobyl poderá ser habitada novamente?

A previsão sobre quando a região poderá ser habitada novamente é complexa e está sujeita a muitos fatores, pois a meia-vida dos isótopos radioativos liberados durante o acidente varia significativamente. Por exemplo, alguns elementos, como o césio-137, têm uma meia-vida relativamente curta (cerca de 30 anos), enquanto outros, como o plutônio-239, têm meia-vida muito mais longa (milhares de anos).

Diante disso, estima-se que partes da zona de exclusão poderão ser habitáveis em prazos mais curtos, enquanto outras áreas mais contaminadas levarão muito mais tempo. Sendo assim, alguns especialistas sugerem que áreas menos contaminadas poderão ser habitadas novamente em algumas décadas, mas partes mais severamente afetadas exigirão séculos o alcance de níveis seguros de radiação, Parte superior do formulário cerca de 20.000 anos.

Enquanto isso, esforços estão sendo feitos para monitorar a região e minimizar os riscos para os trabalhadores envolvidos em projetos de descontaminação e manutenção da área. A área ao redor de Chernobyl continua sendo uma zona de exclusão, com restrições rigorosas devido aos níveis de radiação ainda presentes.

Créditos das imagens

[1]Wikimedia Commons

[2]EvrenKalinbacak/ Shutterstock

[3]Katsiuba Volha/ Shutterstock

Fontes

ACAR, H. et al. Effects of the Chernobyl Disaster on Thyroid Cancer Incidence in Turkey after 22 Years. ISRN Surgery, v. 2011, p. 1–3, 2011.

AKYÜZ, E. Environmental Justice and Nuclear Accidents: The Case of Chernobyl Disaster. International Journal of Environment and Geoinformatics, v. 8, n. 3, p. 369–375, 5 set. 2021.

ALEXANDER, N.; HARRIS, J. After Chernobyl: Welsh Poetry and Nuclear Power. Literature and History, v. 31, n. 1, p. 70–88, 2022.

BERGER, E. M. The chernobyl disaster, concern about the environment, and life satisfaction. Kyklos, v. 63, n. 1, p. 1–8, 2010.

BOLT, M. A.; HELMING, L. M.; TINTLE, N. L. The associations between self-reported exposure to the Chernobyl nuclear disaster zone and mental health disorders in Ukraine. Frontiers in Psychiatry, v. 9, n. FEB, 2018.

BROMET, E. J. Mental health consequences of the Chernobyl disaster. Journal of Radiological Protection, v. 32, n. 1, 2012.

BUCKLEY, M. The social impact of the Chernobyl disaster. International Affairs, v. 66, n. 1, p. 192–193, 1990.  

Por Jhonilson Pereira Gonçalves